April 19, 2014

AINDA E SEMPRE O FUTEBOL EM MACAU

Podes enganar todas as pessoas durante algum tempo. Podes enganar algumas pessoas durante todo o tempo, mas não podes enganar todas as pessoas o tempo todo.
Winston Churchill


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A primeira volta da chamada Liga de Elite do campeonato de futebol de Macau terminou com o Sporting a obter 5 vitórias, dois empates e uma derrota.

Não se poderá dizer que foi milagre, pois o Sporting Clube de Macau tem vindo a crescer em qualidade. No entanto, não imaginávamos que pudesse estar sete jornadas em primeiro lugar.

Percebe-se que houve uma continuidade entre o trabalho desenvolvido na segunda divisão, quando ganhámos o campeonato a quatro jornadas do fim.
No entanto é preciso que se diga que existe uma diferença abissal entre a primeira e a segunda divisão.

Assim, e face às contratações que a direcção fez – correspondendo, na medida do possível, e graças ao reforços dos apoios dos nossos patrocinadores, às solicitações dos técnicos, para se poder enfrentar com dignidade a primeira divisão - foi possível atingir um desempenho que muito terá, certamente, alegrado todos os Sportinguistas.

Por outro lado, embora a direcção tenha sempre tido um vislumbre do grau de competitividade da equipa, todos os desfechos eram imprevisíveis.

A gestão dos campos

Porém, desde Janeiro que o chamado "quintal desportivo", onde a maioria das equipas treina, ficou indisponível, obrigando a equipa técnica e os jogadores a maiores sacrifícios, quer em termos de andar com os treinos às costas quer, ainda, em termos de criatividade, na descoberta de locais alternativos para treinar. Tal situação é, no mínimo, insólita e inaudita.

É pois neste imbróglio em que decorre não apenas o campeonato mas a permanente vontade de se querer meter "o Rossio na Betesga".
Fazer uma análise da situação do futebol em Macau, implica, necessariamente, uma observação crítica. No entanto o Sporting não faz crítica destrutiva. Limita-se a apontar a evidência dos factos.

Isto é, a A.F.M. insiste em ter três divisões, o que não faz sentido face ao nível do futebol praticado e à escassez crónica de recintos, invalidando com isso um campo para treinos das equipas em competição. Um dos campos, em vez de poder ser utilizado para treinos, é utilizado para uma terceira divisão de que não nos esquecemos, porque por lá tivemos de passar, para cumprir a exiguidade de sete jogos. É, porém, constatável que estamos perante o excesso e a escassez, face à ocupação inconsequente, não apenas com o campeonato da terceira divisão, como com campeonatos de juniores compostos por oito equipas.

No futebol de Macau existem também os casos dos já tradicionais "bombos de festa".
Os chamados sub-23, sub-18 e sub-16, que sempre usufruíram dos benefícios de poderem treinar no campo do Estádio da Taipa – apesar dos resultados patentes ano após ano – enquanto as outras equipas não têm onde treinar.  Qualquer jurista poderá constatar que o acto de ter equipas patrocinadas pela própria A.F.M. e que disputam campeonatos por si organizados tem um nome...

E neste caos de desorganização nada se atinge de construtivo. Nunca houve resultados nem pode haver quando não há competições sistemáticas. Sempre dissemos que a A.F.M. faria muito melhor em libertar os sub-23, sub-18 e sub-16 para serem absorvidos ou se constituírem em equipas independentes.

A arbitragem

Mesmo procurando ignorar este aspecto, existiu uma unanimidade nos media sobre a má prestação do árbitro no jogo Sporting-Benfica.
O que sucede é que, de facto, não existe um organismo autónomo de arbitragem em Macau.
Estes estão apendiculados à A.F.M. o que é grave, porque, além de só haver quatro árbitros para a primeira divisão – o que constitui uma aberração organizativa – as suas qualificações não são publicamente conhecidas nem os mesmos funcionam como um organismo independente.
A isto tudo se chama Liga de Elite.  Só que, quando todos metem a cabeça ao mesmo tempo no poço, quase ninguém vê nada. Nós recusamo-nos a isso.

Os locais e os outros

Corre em Macau, como anedota, que o melhor curriculum vitae é ser residente permanente. As outras qualificações não interessam. Porém, não deixa de ser estranhíssimo que a 7 de Dezembro de 2010 o Ponto Final tenha noticiado o seguinte:
Deixa de haver distinção entre residentes permanentes e não permanentes no futebol de Macau. A Associação de Futebol confirma que a medida abrange todas as divisões. Os treinadores das equipas de matriz portuguesa estão satisfeitos.

Curiosamente, e coincidindo com a saída do Lam Pak e do Lam Ieng, a A.F.M. volta atrás, dá o dito por não dito, e eis que, a duas semanas do início do campeonato, anuncia, sem recuar, que se torna obrigatório que cada equipa apresente, no início de cada partida, quatro jogadores residentes permanentes "com o objectivo de promover os jogadores locais".   

Para além de ser uma decisão discriminatória, sem base jurídica, e em perfeita oposição ao espírito e letra da Lei Básica, que apenas distingue os portadores de Bilhete de Identidade de Residentes Permanentes dos que não residem na R.A.E.M. há mais de sete anos, por exclusivos motivos de capacidade eleitoral, e mais nada, veio a Associação de Futebol de Macau cometer um verdadeiro atentado discriminatório da Lei Básica. 
Recordamos que a A.F.M. já foi suspensa pela FIFA em 2005. Mas parece que não aprendem.
É que uma inverdade repetida mil vezes continua a ser isso mesmo. São sobretudo constatações!

No entanto, essa medida, longe de permitir que os jogadores locais joguem, pode colocá-los numa situação muito pouco agradável e até mesmo humilhante: qualquer equipa, transcorridos 15 segundos de jogo, poderá substituir três dos quatro locais, que correm assim o risco de funcionarem como figurantes de uma equipa de futebol. A bondade desta medida cai, assim, inteiramente por terra, só espantando que os seus autores não percebam que é o convite para a humilhação dos jogadores locais, tanto quanto a Associação insiste em humilhar as equipas por si própria patrocinadas e que são, sistematicamente, os bombos de festa. 

Não é, de todo, seguramente, a melhor forma de promover os jogadores locais.

A bolinha e o bolão

Ao Sporting Clube de Macau interessa saber da fonte se existe a obrigatoriedade de jogar o campeonato da bolinha para jogar o campeonato de futebol de onze. A fonte dita segura parece ser, evidentemente, a A.F.M.
Será fonte segura, mas não necessariamente de decisões correctas. Muito provavelmente esquece-se de que tem de responder a organismos internacionais onde se quis filiar.

Para apurar a verdade foram-lhe enviadas por correio electrónico, uma carta em chinês e outra em português no dia 26 de Fevereiro. Quase dois meses depois, ainda não mereceu resposta, demonstrando a consideração que a A.F.M. tem para com – pelo menos – alguns clubes cujas equipas participam nos campeonatos. Entretanto foi enviada uma nova carta registada e com aviso de recepção, da qual se aguarda resposta escrita, como mandam as regras e os bons costumes, porque conversas telefónicas leva-as o vento, sabendo-se antecipadamente que o Sporting Clube de Macau não pode concordar com uma obrigatoriedade entre duas modalidades totalmente distintas.Já só faltava acrescentar o Futsal.

Este é o futebol que existe na Região Administrativa Especial de Macau. E é também assim que a selecção de Macau vai descendo até ao fundo da Classificação Mundial.
Portugal, com o melhor jogador do mundo, terceiro classificado no ranking FIFA, tem três treinadores no Mundial: Fernando Santos pela Grécia, Carlos Queirós, pelo Irão, e Paulo Bento, por Portugal.

Custa constatar que nunca se soube, pelo menos publicamente, de nenhum interesse em se procurar um treinador português para elevar o nível da selecção de Macau. Quando na própria Republica Popular da China, Jaime Pacheco, Nelo Vingada e Tóni treinaram equipas da divisão máxima do futebol chinês. É lamentável que tudo permaneça igual, sem progressos, sinais de melhorias no futebol de Macau. Estranha-se como Rui Cardoso não seja seleccionar de Macau, ele que formou tantos jogadores locais. Coisas deste outro império onde jaz moribunda e a arrefecer a selecção de Macau.

Há um ditado chinês que diz que um sapo que esteja no fundo do poço olha o círculo do céu que de lá de baixo vê e toma-o pelo universo.  Assim parece acontecer com o futebol de Macau.

 António Conceição Júnior

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