Podes enganar todas as pessoas durante algum tempo. Podes enganar algumas pessoas durante todo o tempo, mas não podes enganar todas as pessoas o tempo todo.
Winston Churchill
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A primeira volta da chamada Liga de Elite do
campeonato de futebol de Macau terminou com o Sporting a obter 5 vitórias, dois
empates e uma derrota.
Não se poderá dizer que foi milagre, pois o
Sporting Clube de Macau tem vindo a crescer em qualidade. No entanto, não
imaginávamos que pudesse estar sete jornadas em primeiro lugar.
Percebe-se que houve uma continuidade entre o
trabalho desenvolvido na segunda divisão, quando ganhámos o campeonato a quatro
jornadas do fim.
No entanto é preciso que se diga que existe
uma diferença abissal entre a primeira e a segunda divisão.
Assim, e face às contratações que a direcção
fez – correspondendo, na medida do possível, e graças ao reforços dos apoios dos
nossos patrocinadores, às solicitações dos técnicos, para se poder enfrentar
com dignidade a primeira divisão - foi possível atingir um desempenho que muito
terá, certamente, alegrado todos os Sportinguistas.
Por outro lado, embora a direcção tenha
sempre tido um vislumbre do grau de competitividade da equipa, todos os
desfechos eram imprevisíveis.
A gestão dos campos
Porém, desde Janeiro que o chamado
"quintal desportivo", onde a maioria das equipas treina, ficou
indisponível, obrigando a equipa técnica e os jogadores a maiores sacrifícios,
quer em termos de andar com os treinos às costas quer, ainda, em termos de
criatividade, na descoberta de locais alternativos para treinar. Tal situação é,
no mínimo, insólita e inaudita.
É pois neste imbróglio em que decorre não
apenas o campeonato mas a permanente vontade de se querer meter "o Rossio
na Betesga".
Fazer uma análise da situação do futebol em Macau, implica, necessariamente, uma observação crítica. No entanto o Sporting não faz crítica destrutiva. Limita-se a apontar a evidência dos factos.
Fazer uma análise da situação do futebol em Macau, implica, necessariamente, uma observação crítica. No entanto o Sporting não faz crítica destrutiva. Limita-se a apontar a evidência dos factos.
Isto é, a A.F.M. insiste em ter três divisões,
o que não faz sentido face ao nível do futebol praticado e à escassez crónica
de recintos, invalidando com isso um campo para treinos das equipas em competição.
Um dos campos, em vez de poder ser utilizado para treinos, é utilizado para uma
terceira divisão de que não nos esquecemos, porque por lá tivemos de passar,
para cumprir a exiguidade de sete jogos. É, porém, constatável que estamos
perante o excesso e a escassez, face à ocupação inconsequente, não apenas com o
campeonato da terceira divisão, como com campeonatos de juniores compostos por oito equipas.
No futebol de Macau existem também os casos
dos já tradicionais "bombos de festa".
Os chamados sub-23, sub-18 e sub-16, que
sempre usufruíram dos benefícios de poderem treinar no campo do Estádio da
Taipa – apesar dos resultados patentes ano após ano – enquanto as outras
equipas não têm onde treinar. Qualquer jurista poderá constatar que o acto de ter equipas patrocinadas
pela própria A.F.M. e que disputam campeonatos por si organizados tem um nome...
E neste caos de desorganização nada se atinge
de construtivo. Nunca houve resultados nem pode haver quando não há competições
sistemáticas. Sempre dissemos que a A.F.M. faria muito melhor em libertar os
sub-23, sub-18 e sub-16 para serem absorvidos ou se constituírem em equipas
independentes.
A arbitragem
Mesmo procurando ignorar este aspecto,
existiu uma unanimidade nos media sobre a má prestação do árbitro no jogo
Sporting-Benfica.
O que sucede é que, de facto, não existe um
organismo autónomo de arbitragem em Macau.
Estes estão apendiculados à A.F.M. o que é grave,
porque, além de só haver quatro árbitros para a primeira divisão – o que
constitui uma aberração organizativa – as suas qualificações não são
publicamente conhecidas nem os mesmos funcionam como um organismo independente.
A isto tudo se chama Liga de Elite. Só que, quando todos metem a cabeça ao mesmo
tempo no poço, quase ninguém vê nada. Nós recusamo-nos a isso.
Os locais e os outros
Corre em Macau, como anedota, que o melhor
curriculum vitae é ser residente permanente. As outras qualificações não
interessam. Porém, não deixa de ser estranhíssimo que a 7 de Dezembro de 2010 o
Ponto Final tenha noticiado o seguinte:
Deixa
de haver distinção entre residentes permanentes e não permanentes no futebol de
Macau. A Associação de Futebol confirma que a medida abrange todas as divisões.
Os treinadores das equipas de matriz portuguesa estão satisfeitos.
Curiosamente, e coincidindo com a saída do
Lam Pak e do Lam Ieng, a A.F.M. volta atrás, dá o dito por não dito, e eis que,
a duas semanas do início do campeonato, anuncia, sem recuar, que se torna
obrigatório que cada equipa apresente, no início de cada partida, quatro
jogadores residentes permanentes "com o objectivo de promover os jogadores
locais".
Para além de ser uma
decisão discriminatória, sem base jurídica, e em perfeita oposição ao espírito
e letra da Lei Básica, que apenas distingue os portadores de Bilhete de
Identidade de Residentes Permanentes dos que não residem na R.A.E.M. há mais de
sete anos, por exclusivos motivos de capacidade eleitoral, e mais nada, veio a Associação de Futebol de Macau cometer
um verdadeiro atentado discriminatório da Lei Básica.
Recordamos que a A.F.M. já
foi suspensa pela FIFA em 2005. Mas parece
que não aprendem.
É que uma inverdade repetida mil vezes
continua a ser isso mesmo. São sobretudo constatações!
No entanto, essa medida, longe de permitir
que os jogadores locais joguem, pode colocá-los numa situação muito pouco agradável
e até mesmo humilhante: qualquer equipa, transcorridos 15 segundos de jogo,
poderá substituir três dos quatro locais, que correm assim o risco de funcionarem como figurantes
de uma equipa de futebol. A bondade desta medida cai, assim, inteiramente por
terra, só espantando que os seus autores não percebam que é o convite para a
humilhação dos jogadores locais, tanto quanto a Associação insiste em humilhar
as equipas por si própria patrocinadas e que são, sistematicamente, os bombos
de festa.
Não é, de todo, seguramente, a melhor forma de promover os
jogadores locais.
A bolinha e o bolão
Ao Sporting Clube de Macau interessa saber da
fonte se existe a obrigatoriedade de jogar o campeonato da bolinha para jogar o
campeonato de futebol de onze. A fonte dita segura parece ser, evidentemente, a
A.F.M.
Será fonte segura, mas não necessariamente de
decisões correctas. Muito provavelmente esquece-se de que tem de responder a
organismos internacionais onde se quis filiar.
Para apurar a verdade foram-lhe enviadas por
correio electrónico, uma carta em chinês e outra em português no dia 26 de
Fevereiro. Quase dois meses depois, ainda não mereceu resposta, demonstrando a
consideração que a A.F.M. tem para com – pelo menos – alguns clubes cujas
equipas participam nos campeonatos. Entretanto foi enviada uma nova carta
registada e com aviso de recepção, da qual se aguarda resposta escrita, como mandam as regras e os bons costumes, porque conversas telefónicas leva-as o vento, sabendo-se
antecipadamente que o Sporting Clube de Macau não pode concordar com uma
obrigatoriedade entre duas modalidades totalmente distintas.Já só faltava acrescentar o Futsal.
Este é o futebol que existe na Região Administrativa
Especial de Macau. E é também assim que a selecção de Macau vai descendo até ao fundo
da Classificação Mundial.
Portugal, com o melhor jogador do mundo, terceiro classificado no ranking FIFA,
tem três treinadores no Mundial: Fernando Santos pela Grécia, Carlos Queirós,
pelo Irão, e Paulo Bento, por Portugal.
Custa constatar que nunca se soube, pelo
menos publicamente, de nenhum interesse em se procurar um treinador português
para elevar o nível da selecção de Macau. Quando na própria Republica Popular
da China, Jaime Pacheco, Nelo Vingada e Tóni treinaram equipas da divisão máxima
do futebol chinês. É lamentável que tudo permaneça igual, sem progressos,
sinais de melhorias no futebol de Macau. Estranha-se como Rui Cardoso não seja seleccionar de Macau, ele que formou tantos jogadores locais. Coisas deste outro império onde jaz moribunda e a arrefecer a selecção de Macau.
Há um ditado chinês que diz que um sapo que
esteja no fundo do poço olha o círculo do céu que de lá de baixo vê e toma-o
pelo universo. Assim parece
acontecer com o futebol de Macau.
António Conceição Júnior
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