Caros Consócios,
Os jornais têm uma limitação de espaço absolutamente compreensível. Daí resulta que, por vezes, muitas coisas fiquem por dizer. Assim, resolvi transcrever, com o único propósito de esclarecer cabalmente os Sócios e Adeptos, o teor completo da entrevista escrita, com o devido respeito quer pelo Ponto Final quer, ainda, pelo autor da mesma que a sintetizou para caber.
Os jornais têm uma limitação de espaço absolutamente compreensível. Daí resulta que, por vezes, muitas coisas fiquem por dizer. Assim, resolvi transcrever, com o único propósito de esclarecer cabalmente os Sócios e Adeptos, o teor completo da entrevista escrita, com o devido respeito quer pelo Ponto Final quer, ainda, pelo autor da mesma que a sintetizou para caber.
Saudações Leoninas
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- Depois do incidente com o Mandinho,
obteve algum feedback da Associação de Futebol de Macau (AFM)?
ACJ- O incidente deu-se no dia 16 de Fevereiro, um sábado. No dia 18 o
Sporting entregava uma carta à A.F.M. abordando a delicadeza da situação e
referindo também outros pontos. Nada sucedeu até hoje, o que pode levar a
muitas interpretações, como a de se brincar com vidas humanas.
- Como classifica este silêncio quando
se trata de um tema tão delicado?
ACJ- Eu não classifico o que não tem classificação. A partir de agora, quer
a A.F.M. quer o I.D. - que se disponibilizou, numa postura burocrática, a
proceder ao fornecimento de equipamento de primeiros socorros, desde que a A.F.M. assim o solicitasse
- são colectivamente responsáveis. Perante o subsequente silêncio e situação,
que se mantém sem alteração, ficam claramente definidos os responsáveis por
quaisquer acidentes que possam vir – oxalá não – a suceder.
Há
uma série de incompreensíveis insuficiências. No campo da prevenção e primeiros
socorros, as equipas que não jogam na liga Elite não têm direito a assistência
médica no campo.
Tudo
é de um grande improviso amador que se torna, não apenas confrangedor, mas
igualmente perigoso e discriminatório.
As
pessoas e organizações precisam de ter uma percepção mais ampla dos perigos.
Não se pode brincar com a vida dos jogadores nem fazer distinção entre
divisões. O incidente envolvendo o Mandinho veio confirmar um perigo para o
qual já havia sido dado o alerta o ano passado, pelo Sporting, quando se falou
de desfibrilhadores. Podia ter sido algo de funesto e a quem seriam imputadas
as responsabilidades? Quando não há primeiros socorros para todos não é
admissível que se organizem provas. Se não há, se não os conseguem obter, deve
haver a consciência de que desse modo os campeonatos não podem realizar-se por
razões mais que óbvias.
O
Sporting, pediu por escrito à A.F.M. que tomasse medidas urgentes. Até hoje, os
jogos prosseguem sem qualquer apoio de primeiros socorros.
- Como está a decorrer a iniciativa
Fundo de Solidariedade Mandinho?
ACJ- Como foi anunciado oportunamente, o Fundo de Solidariedade foi lançado
pela direcção do Sporting Clube de Macau para apoio ao Mandinho. Porém não
temos acesso a nenhuns dados nem nunca quisemos ter. A nossa função cumpriu-se
lançando o Fundo.
- O jogador-treinador já foi submetido a
novos testes médicos? Como correram?
ACJ- O Mandinho precisa de repouso completo e nós não temos nem pedimos
nenhumas informações a este respeito. Penso que a sua privacidade deve ser
respeitada e deve ser o próprio que deve dizer algo quando assim o entender.
- O seguro que o clube oferece aos
jogadores foi accionado neste caso e cobre os gastos?
ACJ- É bom que se saiba que em Macau não existe nenhum seguro de desporto.
Quando muito há um seguro contra acidentes pessoais que nós recorremos à falta
de outro, quando até ao ano passado tinhamos fundos para os oferecer aos
jogadores. De resto, a vida do Mandinho não são contas do Sporting Clube de
Macau, como se compreenderá.
Mas
como a A.F.M. é uma caixinha de surpresas, os cinco ou seis jogos do ano
passado, que foi um campeonato a uma volta, tornaram-se num campeonato a duas
voltas – reivindicação nossa que nunca foi atempadamente anunciada – com
dezoito jogos. Isto é, passamos a ter o triplo de jogos com o mesmo orçamento,
o que inviabilizou muita coisa.
Assumimos
frontalmente o desafio de jogar duas jornadas porque sempre defendemos a
verdade desportiva. É difícil mas cerramos os dentes.
- Qual é o ponto de situação do dossier
"relvados sintéticos"? Recebeu notícias da AFM ou do Instituto do
Desporto (ID)?
ACJ- Tive uma conversa com o ID e na altura foi-me dito que Macau precisava
de que o estádio da Taipa fosse de relva natural, por uma questão de prestígio.
Eu diria que prestígio para Macau seria se o futebol (e outros desportos)
saísse da vergonhosa classificação do ranking da FIFA, ao lado das ilhas
Seychelles. Há sempre uma enorme preocupação pelas aparências e muito pouca –
pelo que é dado ver – pela realidade, pela essência do dia a dia. De qualquer
modo foi-me dito que, a haver um estádio de relva sintética, seria o da
Universidade de Ciência e Tecnologia, mas que com a preparação para o concurso
público, seria coisa para pelo menos três anos...
- O ID
tem tido pouca iniciativa no que respeita ao futebol?
ACJ- Para mim o ID, numa cidade
como Macau, deveria ser a entidade organizadora de todos os eventos, e não
apenas a Maratona Internacional de Macau.
Causa-me
alguma perplexidade a má organização da A.F.M., a incoerência organizativa, com
modificações anuais, muitas vezes radicais - como a anunciada bizantinice da
Taça para cada divisão - às regras e normas publicadas anualmente, apenas em
chinês.
Preferiria
poder dizer que o futebol em Macau está excelentemente organizado, com todo o know how, todas as infraestruturas que
um Território tão rico pode proporcionar, com formação para os infantis e
juvenis e campeonatos dimensionados à realidade do Território.
O Rossio na
Betesga
Um
outro aspecto incompreensível, em termos organizativos, é misturar o futebol de
sete, a bolinha, com o futebol de
onze, o bolão.
Tal
como a inflacção de divisões que inundam os escassos campos, também se misturam
os aspectos organizativos de modalidades diferentes.
O
campeonato de bolinha serve também para efeitos de subida para a 3ª. divisão e
acolhimento das equipas que descem dessa divisão. Essa é a sua maior utilidade
no modelo actual, já que é obrigatório a todas as divisões participarem
primeiro no campeonato da bolinha. De resto, não deve existir nenhuma relação
entre o futebol de sete e o de onze.
A
Associação de Futebol em Miniatura de Macau (A.F.M.M.), título da Associação
que organizava os campeonatos de futebol de sete, desapareceu. A A.F.M. ficou
então a organizar os campeonatos de futebol de sete e de onze. E da mesma
maneira que consegue inventar uma Taça para a 1ª. divisão e outra para a 2ª.
divisão, também resolveu obrigar a que todas as equipas, de todas as divisões,
sejam obrigadas a jogar o campeonato de futebol de sete para poder jogar o futebol
de onze. Que é como quem diz, que é obrigatório jogar badminton para depois
poder jogar ténis.
Nada
faz sentido e, por isso, não espanta que com este tipo de organização Macau
esteja em 197º. lugar do ranking FIFA. Vale ainda a pena referir que em 1997
Macau estava em 157º. lugar. Há 16 anos
havia menos pretenciosismo, menos inflacção e melhor qualidade porque havia a
sabedoria de não se meter o Rossio na Betesga.
É
absolutamente indispensável separar o campeonato da bolinha do do futebol de
onze. O primeiro deve começar em
Setembro e o de futebol de onze em Outubro. As equipas da segunda e primeira
divisão devem poder jogar a bolinha em regime facultativo com equipas alternativas.
- O SCM vai jogar
esta semana no Estádio da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Como
dirigente, mas também espectador, como analisa a qualidade do relvado, tantas
vezes criticada por jogadores?
ACJ- É difícil separar a figura do dirigente de um Clube com a de um
cidadão, mas para mim, o cidadão vem primeiro, porque quer o bem colectivo.
Agora
a segunda divisão despediu-se do excelente relvado do Canídromo, para se mudar para o relvado da Universidade
de Ciência e Tecnologia, chamado de “batatal”,
já gasto pela primeira divisão que aí jogou enquanto o relvado do
estádio da Taipa não estava em condições.
Este
seria o campo que, conforme já referi, mais prontamente deveria receber relva
sintética porquanto é um piso que, depois de alguns jogos, fica excelente para
entorses e lesões mais graves.
Tudo
isto tem um nome; chama-se inflacção de divisões. Significa ter permitido
deixar crescer o número de divisões sem haver condições para isso. No ano
passado, na terceira divisão, o Sporting esteve seis meses, desde o fim da
bolinha, à espera de jogar futebol de onze e subir de divisão, em apenas uma
volta, como já disse. Nessa altura, reclamámos que todas as divisões deveriam
ter duas voltas, a favor da verdade desportiva. Inesperadamente, fomos ouvidos.
Nos
anos 1990 havia duas divisões e menos campos. Recuando mais no tempo, havia
apenas uma divisão. Apesar de cem por cento amadora, nos interports entre Macau
e Hong Kong, a selecção de Macau pedia meças e bastas vezes venceu a selecção
profissional de Hong Kong. Ora isto só vem confirmar o velho ditado de que
quantidade não é qualidade. Com três divisões criou-se um tampão na gestão dos
campos, invalidando qualquer tentativa de formação de camadas jovens. A esse
propósito, parece que se criaram
“selecções” de sub-16, sub-18 e sub-23 patrocinadas pela própria A.F.M.,
que participam nos campeonatos como se fossem equipas. Será que se pretende
compensar a questão da formação com esta situação? Se sim, o resultado é um desastre, mormente
no que toca à chamada Liga Elite, onde os Sub-23 não alcançaram ainda nenhum
ponto em 6 jogos, o mesmo sucedendo com os sub-18, que estão em último lugar na
segunda divisão.
Pode
chamar-se a isto formação?...
Há
em Macau gente qualificada para planificar os campeonatos, gente com
experiência, gente capaz de organizar, aconselhar...
A
questão é que o Grande Prémio é organizado com todos os meios, a Maratona
Internacional de Macau é organizada também com todos os meios, mas outros
desportos como o futebol, são organizados por Associações com insuficiente know how organizativo.
- Com o Sporting Clube de Macau na
primeira posição da II Divisão, já vislumbra a próxima época, possivelmente na
Liga de Elite?
ACJ- Vamos devagar, jogo a jogo, consolidando tudo. Às vezes pode ser muito
cedo para se estar na primeira posição, mas o certo é que vou vendo que
praticamos um futebol cujo vocabulário técnico tem vindo a crescer. Tem havido
uma notável acção pedagógica que continua maximizadamente do anterior.
O
Sporting Clube de Macau tem um orçamento muito limitado, que tem sido gerido
com muita contenção porque estamos muito longe dos orçamentos das equipas da
1ª. Divisão.
Dentro
deste cenário de limitação financeira, temos procurado intervir nas áreas que
achamos importantes. Foi assim com a petição para os relvados sintéticos e, do
mesmo modo, fomos, surpreendentemente, os únicos a pronunciarem-se pela
necessidade de primeiros socorros e de desfibrilhadores que, como se sabe, não
beneficiarão somente o Sporting, mas sim todo o futebol. As nossas posições não
são tendenciosas nem para benefício próprio.
A
aposta do Sporting, a nível interno, passa desde há muito pela fidelização dos
jogadores e, agora, pela formação em competição. Por ideia do nosso treinador João
Pegado, que é sobretudo um formador vindo da Academia de Alcochete, tem havido
uma pedagogia mais aprofundada do papel de cada jogador, tem havido um
investimento na formação de muitos jogadores. Temos jogadores que vão sendo
rodados e que vão sendo formados, muitas das vezes de uma forma personalizada
para irem melhorando as suas performances.
O
Sporting tem uma excelente equipa este ano, com jogadores como o Luís Monteiro,
o Pedro Maia, o Sérgio Silva Gaspar, o Vasco Bismark, que estão connosco desde
a 4ª. Divisão, até outros, ligeiramente mais recentes, que formam um grupo
forte que desejo possa permanecer connosco. Também beneficiámos de escassos
reforços que nos permitem um desempenho mais acutilante, que ficou patenteado
nas cinco vitórias consecutivas.
Não
citarei mais nomes para, por lapso, não cometer injustiças. Mas é saudável que
todos disputem o seu lugar no onze inicial ou sejam opção nas convocatórias. É
assim que deve ser. E tudo isto faz parte daquilo que penso que deve ser, em
Macau, o Sporting. Ter mérito de ser amador, mas com a patente boa qualidade
futebolística dos seus jogadores. A política do Sporting é sempre a da
consolidação em todas as áreas. Nenhum jogador do Sporting aufere um ordenado.
- Em caso de subida de divisão, o SCM irá manter
o espírito amador que defende?
ACJ- Absolutamente! O que não invalida que precise de se reforçar, aqui e
ali, como sempre o fez, com escassos reforços, mas que não se podem chamar de
profissionais de modo algum. O grande desafio é, exactamente, ser aquilo que se
deve ser em Macau. Com três campos e a organização que existe, não é possível
nem imaginável um campeonato profissional. Há uma enorme inflacção, escasso
público e há a necessidade de se pensar o futebol em vez de apenas dar pontapés
na bola e ver quem tem o orçamento mais elevado e importa mais jogadores.
- O SCM oferece
prémios de jogo?
ACJ- O Sporting Clube de Macau sempre ofereceu prémios de jogo. Umas vezes
mais elevados, e agora menos elevados dado o número de jogos que temos de
jogar.
Há
que compreender que sempre houve a percepção de que tudo isto é muito volátil,
e que compete à direcção o ingrato papel de manter um equilíbrio orçamental que
corresponda à sempre referida necessidade de consolidação orçamental e de
premiar os jogadores pelo seu esforço e dedicação. Tivessemos nós uma outra
postura, posso assegurar-lhe que hoje já estaríamos falidos.
Como
presidente de uma direcção muito solidária, é meu dever olhar para tudo e não
apenas para uma coisa. Tenho consciência que cada sector olha exclusivamente
para o seu problema, para as suas reinvindicações, desconhecedor do todo que
constituem os problemas de gestão.
Diria
portanto, recordando um sábio ditado: no Sporting de Macau “talha-se a obra à
medida do pano”.
- É a única gratificação dada pelo
clube?
ACJ- Se a ideia implica assumir que há profissionais no Sporting, direi que
não há. Há alguns jogadores, muito muito poucos, que fazem a diferença e dão ao
Sporting maior acutilância, aquela que necessita para estar onde está. Mesmo
assim isso implicaria uma explicação mais alongada que, enquanto assunto
interno do clube, é para se falar internamente.
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