August 5, 2012

A ARTE DE OUVIR

Um banco espanhol, o Sabadell, resolveu comemorar o seu 130º. Aniversário oferecendo um concerto absolutamente insólito na Plaça de S.Roc. 
Em resultado disso, nessa aprazível praça, as pessoas pararam e ouviram Beethoven, o surdo, que de tanto talento, sabia o que compunha ouvindo dentro de si. Daqui se entra numa dicotomia que passa pela interacção entre aquele que dá a ouvir (mesmo surdo e depois de morto) e os que ouvem e se maravilham.

Tem isto tudo a ver com a faculdade e o sentido da audição. E aqui nasce a pergunta:
- Será que sabemos ouvir? Saber ouvir é um acto de sabedoria que implica, por óbvia inerência, a erradicação de quaisquer preconceitos. A maioria das pessoas não ouve. Quer, quando muito, ouvir-se e tentar fazer-se ouvir, o que é, no mínimo, curioso e utópico.
Ocorre então aquilo que apelidamos de “diálogo de surdos”, isto é, um notável dispêndio de energias sem resultados práticos senão o constrangimento de energias.
Saber ouvir e, mais ainda, querer ouvir, é a forma mais sábia de aprendizagem, porque nada se ensina, tudo se aprende.

No contexto desportivo e humano, nasce muitas vezes o preconceito que origina a facção e, de facção em facção, como cogumelos, entra-se no processo de hiper-disseminação de facções, dá-se o milagre da multiplicação, da berraria e da surdez. Só que esta surdez não contém música, mas antes e apenas ruído, que não ocorre em nenhuma geografia específica.
Saber ouvir implica a sincera disponibilidade para ouvir o que o Outro, tem para dizer.

O que somos nos diversos estádios das nossas vidas é mais a soma do que ouvimos, vimos e vivenciamos, do que aquilo que ensinamos.
Daí o ditado “não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir, nem pior cego do que o que não quer ver”. Assim este escrito, que não aborda nenhuma jogada, nenhum esquema táctico, prefere ser uma proposta de reflexão sobre a A Arte de Ouvir, estimulada por um génio surdo, para que se saiba ouvir atempadamente, não vá o diabo tecê-las e passar-se da audição à auscultação, sobretudo quando os que a tal procedem sabem tão pouco ou sabem tanto que os extremos tocam-se originando inevitáveis ciclos.

O grave em tudo isto, é que, quando se chega à auscultação, é porque se não possui nenhuma ideia, nenhuma base estruturada de raciocínio que conduza a uma boa organização. Saber ouvir é, assim, em todos os casos e situações, como já se disse, um acto de incontornável sabedoria e sensatez.

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