Ideologia é um sistema organizado de ideias e pensamentos, com princípio, meio e fim. Isto é, um modo de pensar inteiramente organizado e concluído, pronto a ser o suporte da acção.
É assim que, desde a primeira hora, com base numa análise do que era/é a realidade do futebol em Macau, a direcção do Sporting Clube de Macau formulou progressivamente um ideário adequado a cada desafio. Foi assim na 4ª. divisão onde a sua posição foi a de absorver o mais possível os dados das realidades que lhe chegavam, foi assim na 3ª. divisão, de que foi repetente e que foi uma das melhores lições que permitiram ir burilando e aperfeiçoando as orientações subsequentes.
A direcção do Sporting Clube de Macau procurou intervir no futebol de Macau no sentido de contribuir para uma melhor formatação do mesmo. Foi assim que, com a oportunidade possível, propôs:
1. a valorização dos campos de futebol através da implantação de relvados artificiais.
2. defendeu que os campeonatos de todas as divisões deveriam ser jogados a duas voltas.
3. insurgiu-se civilizadamente quanto à necessidade de a Taça ser sempre transversal a todas as divisões e ter a duração de 90 minutos.
4.defendeu a existência de ambulâncias, desfribilhadores e assistência médica ou paramédica nos campos de futebol de Macau, independentemente da divisão.
5. entretanto a direcção tem em carteira outras questões relativas às regras do futebol em Macau, no que diz respeito quer à “profissionalização” quer, ainda, à necessidade urgente da emergência de seguros desportivos.
Por outro lado, e no quarto ano da sua reactivação, a equipa do Sporting Clube de Macau ganha brilhantemente o campeonato da segunda divisão. Essa vitória verdadeiramente histórica, assinalada nas redes sociais, ficou a dever-se, por um lado a uma política de fidelização de jogadores há já muito defendida pela direcção. Por outro lado, e face à progressão na competição, houve que pontuar a formação com alguns reforços que pudessem dar maior consistência competitiva à equipa e, simultaneamente, abrir espaço para que novos valores pudessem receber uma formação em competição, através de um programa de treino de formação que permitiu o progresso desses jovens valores.
Assim, vale a pena esclarecer que a liderança não é protagonismo, a liderança é a avaliação das potencialidades e o estabelecimento de metas e objectivos, a partir dos quais liderar significa, sobretudo, criar as condições para que todos os actores, sem excepção, possam encontrar lugar para exprimirem a sua criatividade, as suas potencialidades.
Saber reconhecer onde deve terminar o seu papel, é o que uma liderança que não tem necessidade de sobre si chamar as luzes de feéricas ribaltas deve fazer.
Por outro lado cabe à direcção saber reconhecer em cada momento e em cada etapa, as reais potencialidades da equipa, cabe-lhe procurar conferir à mesma as condições que conduzam ao seu sucesso dentro dos objectivos definidos e, assim, proporcionar a emergência da felicidade que os êxitos geralmente trazem ao grupo e, inerentemente, ao nascimento da confiança.
À direcção compete não o protagonismo mas sim providenciar para que as equipas técnica e de jogadores possam protagonizar os anseios de todos.
Mas para que tal aconteça deverá, enquanto estrutura directiva e orientadora de uma equipa essencialmente amadora, promover dentro dos possíveis, determinados pelas limitações orçamentais, a libertação das expressões criativas e afectivas dos actores, para que a sua união possa produzir os efeitos catárticos e criativos que se desejam.
Por isso, a direcção, no seu todo, congratula-se pelo protagonismo dos seus jogadores e da sua equipa técnica, que souberam criar colectivamente, não só uma equipa fortemente vencedora, construtivamente orgulhosa dos seus feitos, moralmente fortalecida, como também evidenciar indicações de que jogadores como Bruno Micali, Naftal Shikongo, Oswaldo Noronha, para apenas citar alguns, sendo produto da chamada “formação em competição”, são mais que promessas. São certezas de progressão que só uma política de fidelização de jogadores pode assegurar.
O Sporting Clube de Macau tem, sobre as outras equipas da 1ª. divisão, uma vantagem substantiva: não mascara, por contratações decorrentes de orçamentos milionários, a valia da sua equipa. Acredita mais na verdade da formação, pontuada aqui e ali por reforços que possam tornar a equipa mais competitiva, sem nunca esquecer que é na formação (mesmo que tardia na idade) que reside a grande força do Sporting Clube de Macau. Isto significa que o seu projecto é a médio-longo prazo. É um projecto que não busca a vitória amanhã.
Por vezes, a falta de orçamentos milionários suscita a necessidade de se ser criativo, pragmático e construtivo. Se isto não faz parte de um ideário e de uma estratégia, não me parece que uma folha Excel sirva de muito.
As vitórias já alcançadas não devem embriagar. Devem antes servir de motivação para se saber que cada vitória constitui uma conquista e que o caminho é uma jornada colectiva, para aqueles que tiverem a visão de aderir a um projecto que se não escuda na transitoriedade de “profissionalismos” que se não justificam numa realidade que por vezes chega a ser patética no que toca à organização, aos prémios, e à natureza da competição.
Há, sobre esta matéria, que ter a cabeça entre as orelhas.
Saudações leoninas.